A cultura continua. Ela nunca para, sempre sobrevive. Seu batimento fraco será ritmo para as futuras gerações, numa nova forma, mas com corpos tão conhecidos, tão metamorfoseados. E, esta semana, na livraria, continuaremos a dançar.
Começamos na quarta-feira, dia 30 de outubro, com o lançamento de cacos retidos na margem, de Adriane Figueira (@a.dri.ane). Publicado pela Aboio, o livro de Adriane recusa a metida, a exatidão e a linearidade ao escrever: “Eu nunca escrevi diários! Isto aqui é um extravasamento, um inventário estilhaçado, sem datas fixas no calendário, sem horários demarcados — guiado por Kairós”. O tempo da palavra de Adriane Figueira é o do extravasamento. Os textos deste livro são desenhos sutis, quase oníricos, de um labirinto de memórias e vertigens que, solitário e vigilante, assoma como possibilidade de um contágio verbal que desoculta as tempestades da nossa experiência.
Começaremos às 19h. Até.
Na quinta-feira (31/10), seguiremos com nosso segundo clube de leitura de Outubro. Dessa vez, a conversa será sobre o livro Casa de família, de Paula Fábrio, que fala sobre uma realidade tão próxima da nossa. Em 2019, na cidade de São Paulo, preocupada com a perda progressiva da memória, uma mulher se esforça para reordenar lembranças das figuras que moldaram sua identidade: a mãe, o pai, o irmão e aquelas outras, as empregadas, que acompanharam a história da família por trás de uma barreira invisível e cada vez mais frágil.
O que é uma casa de família? Mais do que o sobrado em São Paulo que abriga o típico arranjo patriarcal da classe média brasileira, a expressão se refere aos locais aonde mulheres de todos os cantos do país, mas sobretudo do Nordeste, vão trabalhar como domésticas, babás, cuidadoras.
Quando Soraia começa a registrar suas recordações, com a aproximação da meia-idade e percebendo as imagens de sua infância se embaralharem na mente, são as vozes dessas mulheres que insistem em ecoar --aquelas que chegavam e partiam de sua casa em fluxo ininterrupto desde que a mãe ficou acamada por uma doença degenerativa. Somando a elas as memórias do pai, em suas jornadas para fechar as contas, e as do irmão mais velho, fascinado pelo empreendedorismo, Soraia tenta dar sentido às experiências que viveu.
Autora estabelecida na literatura brasileira, com obras premiadas publicadas por diferentes editoras independentes, Paula Fábrio ganhou o Prêmio Carolina Maria de Jesus em 2023 com o original deste livro. Casa de família explora questões de classe e gênero com maestria, buscando entender, por meio das pequenas relações encerradas em um ambiente doméstico, grandes temas do Brasil contemporâneo, desde os resquícios da escravidão atéas origens da ideologia de extrema-direita.
Novembro será bem recebido com o lançamento do livro Outro olhar sobre a cegueira, de Joyce Laudino.
O livro, por meio da experiência clínica com pessoas com deficiência visual, apresenta o olhar na perspectiva não só da psicanálise, mas também da filosofia e ilustrações da mitologia, da arte e de assuntos contemporâneos, como o uso do Instagram. Também iremos refletir sobre capacitismo e segregação, algo que anda lado a lado com as leituras sugeridas na newsletter da semana passada.
Joyce e o psicanalista Rodrigo Pinto Pacheco estarão conduzindo a conversa na sexta-feira, 01/11, a partir das 19h.
Por fim, temos o prazer de convidar a todos/as/es para o lançamento do livro Movência, de Lucas Simonetti, no sábado (02/11). Além dos autógrafos, haverá uma conversa com a estimada Thaïs Chauvel, da @mizliteratura.
Lucas é professor de literatura e mestre em literatura brasileira pela USP. Na pesquisa, investigou o tema do patriarcado em contos de João Guimarães Rosa. Foi finalista, por duas vezes, do programa Nascente USP na categoria conto. Publicou contos com menção honrosa pelo Prêmio Off Flip de Literatura 2022, pela União Brasileira de Escritores e em revistas acadêmicas. Acredita sobretudo no caráter humanizador da literatura.
Aqui, um trecho de Tatiana Bertini na orelha do livro: “Não haveria melhor conceito para nomear esta obra, movência sugere exatamente aquilo que será encontrado na espirituosa narrativa. Seja conduzindo o leitor entre referências menos ou mais explícitas a nomes da literatura e da história, seja movimentando-se habilmente entre regionalismo, crendice, imaginação e realismo fantástico, o narrador transporta o leitor ao universo ficcional situado entre Sururu-du-sul e Sororó-do-sol, lugarejo que desperta, ao mesmo tempo, curiosidade e humor. Dividido em partes aparentemente autônomas, mas entrelaçadas, o livro é composto por quatro elaborados contos que apresentam Angélico, Ana, a clara, Ortigão e outros extraordinários personagens. Tais figuras habitam os ilusórios limites da realidade e encarnam o que o leitor passará a admirar ao final da leitura, bem sintetizado na voz de Ana: “Aprecio o mundo assim: quando se chocam o fluxo com o fixo.”
Que alegria viver a cultura na Ponta. Te esperamos por lá.
Antes, uma colinha para não esquecer os eventos:
Quarta-feira, 30/10, 19h — lançamento de cacos retidos na margem, de Adriane Figueira
Quinta-feira, 31/10, 20h — clube de leitura do livro Casa de família, de Paula Fábrio
Sexta-feira, 01/10, 19h — lançamento do livro Outro olhar sobre a cegueira, de Joyce Laudino.
Sábado, 02/10, 19h — lançamento do livro Movência, de Lucas Simonetti
Boas leituras!
Saudades de vocês!