Leituras sobre a "arte invisível" para os bibliófilos
Livros que dissecam, discutem e mergulham nos livros
Los libros son los maestros que nos instruyen sin vara ni palmeta, sin gritos ni cólera. Se ti acercas a ellos, nunca duermen; si les preguntas, no se esconden; no murmuran reproches cuando te equivocas; no se burlan de ti cuando algo ignoras (…) ¡Oh libros, los únicos liberales y libres, que dais a todo el que pide y concedéis la libertad a todo el que os sirve con diligencia! — Ricardo de Bury (En el Filobiblion, siglo XIV)
De um bibliófilo para outro, separamos na newsletter de hoje títulos que celebram a tal “arte invisível”, como diz Richard Hendel. As escolhas gráficas, a tipografia, o papel, a encadernação. A página que transcende na dobra; que fecha, antes de nos abrir.
Os livros aqui destacados vieram diretamente da parte mais amada da biblioteca do Bruno, o bibliófilo da Ponta. Eles estão prontos para outros donos, novos olhos, leituras inéditas.
As Artes do Livro na Biblioteca de Gustavo Piqueira, de Gustavo Piqueira
Gustavo Piqueira enxerga o design gráfico como um diálogo, um traço presente em seu trabalho na Casa Rex e neste livro. As inúmeras ilustrações evidenciam a quebra dos limites do design feita por Piqueira, que viaja livremente pelas fronteiras da profissão, expandindo sua atuação por ilustrações, objetos, tipografia, todos marcados pela livre mistura entre design, história, arte e literatura.
Em As Artes do Livro na Biblioteca de Gustavo Piqueira, encontraremos manuscritos medievais, livros de artista, novelas gráficas, fotolivros, livros infantis, códices pré-colombianos, design editorial, edições artesanais, fanzines e literatura experimental. Todos reunidos, misturados e, acima de tudo, desprendidos de suas habituais segmentações, num livre passeio pelas múltiplas possibilidades de texto, imagem e materialidade assumirem funções narrativas no território do livro.
As Paisagens da Escrita e do Livro, de Elisa Nazarian e Frédéric Barbier
Mais um título de ilustre Coleção Bibliofilia, que aborda as profundas mudanças no mundo do livro e do impresso, as quais tocam tanto a produção editorial quanto as formas de transmissão da linguagem escrita e seus mecanismos de recepção. A coleção não nos deixa esquecer nosso amor pelos livros. Entre colecionadores experimentados e jovens amantes da leitura, esse amor tem se convertido em movimentos de valorização da bibliodiversidade — algo que aspiramos fazer na Ponta, através do nosso acervo, que incentiva a leitura bibliófila, e das nossas newsletters, como esta.
Em As Paisagens da Escrita e do Livro, de Frédéric Barbier, “o leitor é convidado a empreender uma longa viagem através da Europa, da planície de Peste à Península Ibérica; das cidades alemãs do Norte à costa do Mediterrâneo, na Península Itálica e na Grécia. Se os livros são um produto da humanidade, nada mais natural do que perscrutar as rotas, os rios, os mares, as montanhas e as imbricações que possibilitaram séculos de comunicações e contatos entre os povos. Sem dúvida, uma narrativa que se apresenta como um modelo notável de geohistória do livro,” comentam Marisa Midori Deaecto e Plinio Martins Filho.
Livraria Ideal: do Cordel à Bibliofilia, de Aníbal Bragança
Livraria Ideal conta a história de Silvestre Mônaco e de sua livraria — a Ideal —, fundada em Niterói em 1946. Silvestre é engraxate, apontador de jogo do bicho, vendedor de revistas usadas e literatura de cordel e, finalmente, o mais importante livreiro que a ex-capital fluminense já teve. Ao falar da trajetória desse italiano que chegou ao Brasil no início do século XX, Aníbal Bragança contextualiza a fundação da Ideal tendo como pano de fundo e objeto de estudo o próprio desenvolvimento do sistema de ensino no Brasil, e a consequente ampliação do número de leitores, desde finais do século XIX até meados da década de 1940. Bragança também deita um olhar atento sobre a indústria editorial e a cultura de massa no país, criando um painel a respeito da formação cultural da nossa sociedade. Baseado em uma alentada pesquisa, Livraria Ideal é um importante documento para todos aqueles interessados na história do livro e do mercado editorial brasileiro.
A marca do editor, de Roberto Calasso
Do gigante Roberto Calasso, que esteve, por muitos anos, à frente da Adelphi, a mais prestigiosa casa editorial europeia, A marca do editor é o relato de uma trajetória excepcional, de uma estirpe que formou nossa sensibilidade e nossa cultura, e que agora mais que nunca precisa de nosso reconhecimento.
Ao iluminar a figura dos grandes editores europeus e americanos do século XX, Calasso mostra a importância decisiva que editoras como Gallimard, Einaudi, Suhrkamp ou Farrar, Straus & Giroux tiveram na formação de um critério e de um público leitor, no ordenamento e na separação do essencial do supérfluo no que diz respeito à literatura. Calasso discorre sobre sua ideia da “edição como gênero literário”: um editor da estirpe à qual ele pertence é um caçador de “livros únicos”, é alguém que escreve, com os livros que publica, o melhor livro de todos: seu catálogo, que é ao mesmo tempo sua autobiografia.
“A verdadeira história da edição é em larga medida oral – e assim parece destinada a permanecer. Uma teoria da arte editorial nunca se desenvolveu – e talvez seja tarde demais para que possa se desenvolver agora. Contrariando esses fatos, tentei reunir dois elementos: alguns eventos da história da Adelphi, que vivi por cinquenta anos, e um perfil não da teoria da edição, mas daquilo que um determinado tipo de edição também poderia ser: uma forma, a ser estudada e julgada como se faz com um livro. Que, no caso da Adelphi, teria mais de dois mil capítulos.” — Roberto Calasso
Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras, de Ubiratan Machado
Um dos livros preferidos do livreiros da Ponta, inspiração para esta pequena e charmosa livraria na Santa Cecília! Começamos no Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro, primeiro ponto de venda de livros no Brasil e vamos até as lojas sofisticadas e moderninhas, com café, computadores e tardes de autógrafo. Entre esses extremos, se desenrola uma história conturbada, que se alterna entre o livre intercâmbio de ideias e o enfrentamento da censura. Este Pequeno Guia é um passeio de três séculos e meio, um convite ao leitor para conhecer as idas e vindas da história intelectual brasileira.
O Infinito em um Junco, de Irene Vallejo
Do Brasil para o mundo, em O Infinito em um Junco, Irene Vallejo faz um passeio pela trajetória desse artefato fascinante que inventamos para que as palavras pudessem ser transportadas pelo espaço e pelo tempo. A obra conta a história desse objeto desde sua criação, milênios atrás, passando por todos os modelos e formatos que testamos ao longo da jornada humana.
Acima de tudo, esta é uma fabulosa aventura coletiva protagonizada por milhares de pessoas que, ao longo do tempo, protegeram e tornaram o livro possível: contadores de histórias, escribas, iluminadores, tradutores, vendedores ambulantes, professores, sábios, espiões, rebeldes, freiras, aventureiros e LIVREIROS!
O Design do Livro, de Richard Hendel
Somente porque algo é legível, isso não quer dizer que comunica; pode ser que esteja comunicando a coisa errada. Alguns títulos tradicionais de livro, enciclopédias, ou muitos livros que os jovens jamais apanhariam numa prateleira, poder-se-ia torná-los mais atraentes. Enviar a mensagem errada ou não enviar uma mensagem suficientemente forte é, no mais das vezes, um problema das publicações. Você pode ser legível, mas que emoção está contida na mensagem? — David Carson
A citação de Carson abre o livro de Richard Hendel, que tem como maior desafio não o de criar um objeto bonito, mas o de descobrir a melhor maneira de servir às palavras do autor. O premiado artista gráfico americano e outros oito designers apresentam, neste volume, alguns de seus mais importantes projetos visuais. Hendel analisa a escolha do formato, a seleção dos tipos, a disposição da mancha, entre outros aspectos.
De muchos libros, de Ruy Pérez Tamayo
Toda mi vida he sido un lector constante. Mis padres lo eran desde antes de que yo naciera, de modo que hasta donde yo me acuerdo, los libros siempre fueron elementos esenciales de mi entorno. Cuando en esa casa los niños aprendimos a leer, nos encontramos no con uno sino con dos mundos: el real y el de los libros, que, por cierto, no siempre coincidían. Confieso que desde entonces les tengo más confianza a los libros que a la realidad. En este volumen he reunido una selección de textos con el objeto de ilustrar tanto las lecturas como las reacciones de un investigador académico mexicano de la segunda mitad del siglo XX a ciertas corrientes científicas y culturales de su tiempo. Se trata, pues, de una modesta contribución a la microhistoria de esa época. — Ruy Pérez Tamayo
Ao longo dos anos, o entusiasmo do autor por alguns livros o motivou a escrever uma série de textos nos que pretendiam noticiar sua publicação e examinar de forma resumida seu conteúdo, e assim dar-lhes maior divulgação, tanto na imprensa científica especializada em vários diários do México, conferências e prólogos. Este volume reúne uma seleção de contribuições científicas, que abrangem de 1975 a 2007, com o objetivo de ilustrar as palestras e reações de um cientista mexicano da segunda metade do século XX a ciertas científicas e culturais atuais de seu tempo. Trata-se de uma importante contribuição para a microhistória daquela época.
E é essa a nossa newsletter de hoje.
Boas leituras e bons livros!