Barulhista, Miranda July e Thomas Pynchon
Os contemporâneos dos jogos de palavras, na gangorra da ironia e da linguagem
É do cotidiano e da complexidade do comportamento humano que estes autores extraem suas divagações filosóficas, sociológica e culturais. No experimentar de novas formas de narrar, nas múltiplas perspectivas e na linguagem tão próxima ao detalhe, eles encontram espaço para explorar questões de identidade dentro de um mundo fragmentado, sempre com uma ironia sagaz.
Zona Leste is the new Savassi, livro que abre esta lista, é bem especial pra Ponta. Foi escrito pelo Baru, também conhecido como Barulhista, amigo próximo de todos que frequentam esse espaço livresco. Baru já sentou no café da Ponta e conversou sobre suas leituras como tanta gente que passa por aqui e já se declarou um admirador das nossas newsletters. Pois bem, hoje faremos o movimento ao contrário, colocando Baru e sua arte como objeto de admiração a partir dos nossos olhos. Lá vai.
Zona Leste is the new Savassi, de Barulhista
Inspirado por muitos dos autores desta lista, Barulhista brinca com a linguagem, com o estilo editorial e com as convenções do que se é uma narrativa ao escrever Zona Leste is the new Savassi. Aqui, vamos até Savassi, um bairro de classe alta na Zona Centro-Sul de Belo Horizonte, sua cidade, para refletir sobre os movimentos culturais e políticos pungentes no dia a dia dos jovens que de lá vêm. Entre vozes, pixos e passados, Baru constrói um livro que fica na memória, tanto pela sua autenticidade estilística quanto pela poesia astuta e engraçada.
Ao ler Zona Leste is the new Savassi, os traços de Rosa e DFW, para citar alguns, saltam aos olhos e, a partir disso, recortamos um pequeno pedaço da literatura mundial para organizar nossas recomendações de hoje.
Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa
Em Primeiras estórias, João Guimarães Rosa constrói narrativas curtas que tratam de matérias diversas da experiência humana, como a busca da felicidade, a necessidade do autoconhecimento e as maneiras de se conviver com a inevitável finitude da vida.
Composto por 21 contos, “As margens da alegria”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”, “Famigerado” e “A terceira margem do rio” são alguns dos feitos sublimes desse escritor, que levou a artesania da palavra a patamares jamais experimentados na literatura de língua portuguesa. A capacidade de encantar desse livro está, dentre outros atributos, nas estórias tecidas com maestria e que se desenrolam em um território situado à margem da civilização moderna, compondo enredos que mesclam o real e a ficção, e que deixam largo espaço para os leitores darem asas à fantasia e, paradoxalmente, refletirem sobre seus destinos.
NW, de Zadie Smith
A partir de quatro vidas que se cruzam numa Londres multiétnica e multicultural, Zadie compõe um vertiginoso romance urbano sobre como encaramos o passado e o que esperamos do futuro.
Neste seu primeiro romance desde o sucesso estrondoso de Sobre a beleza, publicado originalmente em 2005, Zadie Smith volta o olhar para Londres, sua cidade natal, e mais especificamente para o bairro de Kilburn, na região de NW, onde culturas do mundo inteiro se encontram e se transformam, uma zona moldada por sucessivas ondas migratórias. NW segue o passo de quatro londrinos - Nathan, Natalie, Leah e Felix -, conforme eles deixam o bairro de suas infâncias e passam a viver numa cidade tão acolhedora quanto áspera. O enfrentamento com a vida adulta se dará numa Londres que é ao mesmo tempo brutal e bela, complicada e reveladora. E é após um encontro fortuito que esses quatro personagens, vivendo a exata encruzilhada entre quem eram e quem querem ser, vão finalmente enxergar as escolhas do passado se desenrolando no futuro. É Natalie, que se reinventou como uma pessoa de sucesso, mas que assiste a sua vida descarrilhar. Ou Leah, insegura com o prospecto da maternidade. Ou ainda Nathan, preso a um destino infeliz desde os tempos de escola. A complexa topografia da Londres moderna é explorada nesse vívido retrato sobre ambição e apatia, mudança e continuidade e, no limite, sobre as barreiras sociais e pessoais e os modos que encontramos para derrubá-las.
A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan
Da São Francisco dos anos 1970 à Nova York de um futuro próximo, Jennifer Egan tece uma narrativa caleidoscópica, que alterna vozes e perspectivas, cenários e personagens para contar como os sonhos se constroem e se desfazem ao longo da vida. A visita cruel do tempo é composto por histórias curtas – 13 faixas sobre relações familiares, indústria fonográfica, jornalismo de celebridades, efeitos da tecnologia, viagens e a busca por identidade versus o esfacelamento de ideais -, interligadas pelas memórias de um grupo de personagens em diferentes pontos de suas vidas.
Bennie Salazar é um executivo da indústria fonográfica. Ex-integrante de uma banda de punk, ele foi o responsável pela descoberta e pelo sucesso dos Conduits, cujo guitarrista, Bosco, fazia com que Iggy Pop parecesse tranquilo no palco. Jules Jones é um repórter de celebridades preso por atacar uma atriz durante uma entrevista e vê na última – e suicida – turnê de Bosco a oportunidade de reerguer a própria carreira. Jules é irmão de Stephanie, casada com Bennie, que teve como mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína e em garotinhas. Sasha é a assistente cleptomaníaca de Bennie, e seu passado desregrado e seu futuro estruturado parecem tão desconexos quanto as tramas dos muitos personagens que compõem esta história sobre música, sobrevivência e a suscetibilidade humana sob as garras do tempo.
O rei pálido, de David Foster Wallace
O Internal Revenue Service de Peoria, Illinois, parece tão comum quanto os próprios agentes do fisco – pelo menos é essa a impressão do recém-chegado David Wallace. No entanto, à medida que mergulha em uma morosa e repetitiva rotina, David passa a conhecer mais a fundo a ampla gama de personalidades atraídas pela curiosa vocação daquele ofício. E tudo isso em um momento em que forças internas do departamento parecem conspirar para extinguir até mesmo a pouca humanidade e dignidade que ainda restam à repartição.
Em O rei pálido, David Foster Wallace discute temas fundamentais de nossa existência: a monotonia, a depressão, o sentido da vida e o valor do trabalho. Genial, hilário e comovente, eis um livro incontornável de uma das mentes mais originais da literatura contemporânea.
O escolhido foi você, de Miranda July
"Como você passa o seu tempo?". "Qual é a sua lembrança mais antiga?". "Quais são seus planos para o futuro?". "Qual foi a parte mais estranha da sua vida até agora?". Em diferentes regiões de Los Angeles, um punhado de pessoas comuns recebeu Miranda July para responder perguntas como essas. Os entrevistados chamaram a atenção da autora em razão dos itens que anunciaram no jornalzinho PennySaver, distribuído semanalmente pelo correio.
Miranda estava em busca de histórias e pessoas reais que pudessem alimentá-la em seu projeto à época, o longa-metragem O futuro. No jornal, deparou-se com estranhos itens à venda, como girinos e bonecos dos Ursinhos Carinhosos, e, sem saber direito o que procurava - além de inspiração, histórias e motivos para continuar o filme -, resolveu conhecer os anunciantes e seus objetos.
Michael, aos sessenta e tantos anos, está passando por cirurgias para mudar de sexo e pôs uma jaqueta preta de couro à venda. Primila anuncia trajes exóticos a preços módicos para ajudar uma aldeia indiana. Andrew cuida de um laguinho que ele mesmo construiu no quintal e cria girinos, esperando arrecadar algum dinheiro.
Entremeando os relatos dos encontros com fotos de seus personagens e reflexões sobre o processo, ela faz de O escolhido foi você um making of que vai além das circunstâncias da criação. De seu olhar curioso para o outro surgem questionamentos a respeito de sua própria vida e da matéria de que são feitas as obras de arte.
Confissões de um jovem romancista, de Umberto Eco
Umberto Eco publicou seu primeiro romance, O nome da rosa, em 1980, quando tinha quase 50 anos. Nestas Confissões de um jovem romancista, escritas quase trinta anos depois de sua estreia na ficção, o autor rememora sua longa carreira como teórico e os principais trabalhos como romancista, refletindo sobre os processos que utiliza ao escrever ficção. Originalmente, os quatro ensaios do livro foram parte do programa Palestras Richard Ellmann sobre Literatura Moderna, na Universidade Emory, em Atlanta, Estados Unidos. Ao mesmo tempo medievalista, filósofo e estudioso da literatura contemporânea, Umberto Eco se mostra um “jovem romancista” que ainda surpreende ao ensinar sobre a arte da ficção e o poder das palavras.
O amor dos homens avulsos, de Victor Heringer
No calor de um subúrbio carioca, um garoto cresce em meio a partidas de futebol, conversas sobre terreiros e o passado de seu pai, um médico na década de 1970. Na adolescência, ele recebe em casa um menino apadrinhado de seu pai, que morre tempos depois num episódio de agressão. O garoto cresce e esse passado o assombra diariamente, ditando os rumos de sua vida. Essa história, aparentemente banal, e desenvolvida com maestria ficcional e grandeza quase machadiana por Victor Heringer. Dono de uma prosa fluente e maleável, além de uma visão derrisória da vida, o autor demonstra pleno domínio na construção de cenas e personagens. E emociona o leitor com sua delicada percepção da realidade.
O leilão do lote 49, de Thomas Pynchon
Hilariante romance de um dos melhores escritores contemporâneos, tendo como pano de fundo as bizarras subculturas do Sul da Califórnia na década de 60.
O leilão do lote 49, segundo romance de Thomas Pynchon, um dos mais inventivos escritores norte-americanos, é um hilariante mergulho, repleto de surpresas, na subcultura da Califórnia em plena década de 60, entremeado de alusões à cultura de massa e à história européia. Édipa Maas, a protagonista, é surpreendida ao ser designada inventariante no testamento de um riquíssimo ex-namorado; ao começar a desvendar seus negócios, ela se vê envolvida no que parece ser um misterioso complô internacional, que se complica à medida que fatos e personagens cada vez mais bizarros se sucedem e se encaixam como as peças de um delirante quebra-cabeças.
Ficamos por aqui,
Boas leituras!